Fatores Não Bramânicos
No século VI a.C. a tradição védica é atacada violentamente por indivíduos hostis ou estranhos à disciplina bramânica. Esses espíritos independentes podem-se classificar em três categorias: sofistas, materialistas e yogins.
Os sofistas indianos surgem por situações análogas às que deram origem aos sofistas na Grécia: heterogeneidade social, instabilidade política, contatos com o estrangeiro, irreligião e desmoralização. E, como os sofistas gregos, são críticos e céticos, relativistas e imorais, mundanos e interesseiros, demolidores do conhecimento racional bem como da tradição e da religião.
Os sofistas indianos terão uma vasta e longa influência da Índia, até se constituírem fortes disciplinas intelectuais e morais, para cuja tradição aliás eles contribuíram, como o budismo e o bramanismo posterior valorizado por uma dialética e uma filosofia.
Os materialistas indianos fundam a irreligião e a negação da revelação védica sobre o materialismo. Existem apenas e realmente os corpos, que se resolvem em uma pluralidade de elementos imutáveis: o espírito, portanto, não existe separado do corpo. Critério único e certo de verdade é a percepção do sensível, e o prazer é a única regra de vida.
Esses hedonistas são também ascetas, ma não para mortificarem a vida, e sim para não se tornarem escravos do mundo e poderem gozá-lo melhor. Certo dia do ano abandonavam-se vergonhosamente a uma orgia coletiva e desenfreada. O materialismo indiano que representa certamente uma tendência heterodoxa – influiu profundamente também sobre os sistemas ortodoxos.
Os yogins são mais indiferentes do que hostis ao bramanismo, e apaixonados pela vida ascética. Tal gênero de vida, sem ambições mundanas e sem exigências de casta, não apresenta afinidade alguma com a religião védica e a disciplina bramânica. Mas, pelo seu desapego e pela sua austeridade, impõe-se ao respeito universal, inclusive ao dos brâmanes.
Nasce, assim, um novo tipo de religiosidade, que dominará toda a civilização da Índia: o monge mendicante e o asceta solitário terão influência e exercerão uma sedução imensa sobre a alma indiana. Para esses anacoretas, o ascetismo tem lugar de especulação e de moral.
A filosofia ioga não é ainda um sistema metafísico, mas uma renúncia ao mundo, um apagamento dos sentidos. Para chegar ao domínio das próprias faculdades, a ascética ioga recorre à clássica ginástica respiratória, que exige toda sorte de privações e sofrimentos.
Referências Bibliográficas
BURN, Lucilla. O Passado Lendário – Mitos Gregos. São Paulo: Moraes, 1992.
CERAM, C.W. Deuses, Túmulos e Sábios. São Paulo: Melhoramentos, 19.ª edição, 1989.
DUMÉZIL, Georges. Jupiter Mars Quirinus, essai sur la conception indo-européenne de la société et sur les origines de Rome. Paris, Gallimard, 1941.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.
© Texto Produzido Por Rosana Madjarof – 19/02/2015 – Respeite os Direitos Autorais