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Cupido

Cupido

 

Nascimento de Cupido

Cupido nos tempos primitivos é considerado um dos grandes princípios do universo e até o mais antigo dos deuses. Representa a força poderosa que faz com que todos os seres sejam atraídos uns pelos outros, e pela qual nascem e se perpetuam todas as raças. Mitologicamente, não sabemos quem é seu pai, mas os poetas e escultores concordam em lhe dar Vênus por mãe, e é realmente naturalíssimo que Cupido seja filho da beleza.

O nascimento de Cupido proporcionou a Lesueur o tens de uma encantadora composição. Vênus sentada nas nuvens está rodeada das três Graças, uma das quais apresenta o gracioso menino. Uma das Horas, que paira no céu, esparzi flores sobre o grupo.

 

Educação de Cupido

Notando Vênus que Eros (Cupido) não crescia e permanecia sempre menino, perguntou o motivo a Têmis. A resposta foi que o menino cresceria quando tivesse um companheiro que o amasse. Vênus deu-lhe, então, por amigo Anteros (o amor partilhado). Quando estão juntos, Cupido cresce, mas volta a ser menino quando Anteros o deixa. É uma alegoria cujo sentido é que o afeto necessita de ser correspondido para desenvolver-se.

A educação de Cupido por Vênus proporcionou assunto para uma multidão de maravilhosas composições em pedras gravadas. Vênus brinca com ele de mil modos diversos, pegando-lhe o arco ou as setas e seguindo-lhe com o olhar os graciosos movimentos. Mas o malicioso menino vinga-se, e várias vezes a mãe experimenta o efeito das suas flechadas.

Cupido era freqüentemente considerado um civilizador que soube mitigar a rudeza dos costumes primitivos. A arte apoderou-se dessa ideia, apresentando-nos os animais ferozes submetidos ao irresistível poder do filho de Vênus.

Nas pedras gravadas antigas vemos Cupido montado num leão a quem enfeitiça com os seus acordes; outras vezes atrela animais ferozes ao seu carro, após domesticá-los, ou então quebra os atributos dos deuses, porque o universo lhe está submetido. Não obstante o seu poder, jamais ousou atacar Minerva e sempre respeitou as Musas.

Cupido é o espanto dos homens e dos deuses. Júpiter, prevendo os males que ele causaria, quis obrigar Vênus a desfazer-se dele. Para o furtar à cólera do senhor dos deuses, viu-se Vênus obrigada a ocultá-lo nos bosques, onde ele sugou o leite de animais ferozes.

Também os poetas falam sem cessar da crueldade de Cupido: “Formosa Vênus, filha do mar e do rei do Olimpo, que ressentimento tens contra nós? Por que deste a vida a tal flagelo, Cupido, o deus feroz, impiedoso, cujo espírito corresponde tão pouco ao encantos que o embelezam? Por que recebeu asas e o poder de lançar setas, a fim de que não pudéssemos safar-nos dos seus terríveis golpes?” (Bíon)

Um epigrama de Mosco mostra a que ponto conhecia Cupido o seu poder, até contra Júpiter. “Tendo deposto o arco e o archote, Cupido, de cabelos encaracolados, pegou um aguilhão de boieiro e suspendeu ao pescoço o alforje de semeador; depois, atrelou ao jugo uma parelha de bois vigorosos e nos sulcos atirou o trigo de Ceres.

Olhando, então para o céu, disse ao próprio Júpiter: “Fecunda estes campos, ou então, touro da Europa, eu te atrelarei a este arado”. (Antologia).

Luciano, nos seus diálogos dos deuses, assim formula as queixas de Júpiter a Cupido:

“Cupido – Sim, se cometi um erro, perdoa-me, Júpiter. Sou ainda menino e não atingi a idade da razão.

Júpiter – Tu, Cupido, um menino?! Mas se és mais velho que Japeto. Por não teres barba nem cabelos brancos, julga-tes ainda menino? Não. És velho e velho maldoso.

Cupido – E que mal te fez, pois, este velho, como dizes, para que penses em encadeá-lo?

Júpiter – Vê, pequenino malandro, se não é grande mal insultar-me a ponto de fazeres com que eu me revestisse da forma de sátiro, touro, cisne e água. Não fizeste com que mulher alguma se apaixonasse de mim próprio, e não sei absolutamente que, pelo teu sortilégio, eu tenha conseguido agradar a uma que fosse.

Pelo contrário, devo recorrer a metamorfoses e ocultar-me. É verdade que amam o touro ou o cisne, mas se me vissem morreriam de medo”. (Luciano).

Cupido inspirou encantadores trechos a Anacreonte: “No meio da noite, na hora em que todos os mortais dormem, Cupido chega e, batendo à minha porta, faz estremecer o ferrolho: “Quem bate assim? exclamei.

Quem vem interromper-me os sonhos cheios de encanto? – Abre, responde-me Cupido, não temas, sou pequenino. Estou molhado pela chuva, a lua desapareceu e eu me perdi dentro da noite.”

Ouvindo tais palavras apiedei-me; acendo a lâmpada, abro e vejo um menino alado, armado de arco e aljava; levo-o ao pé da lareira, aqueço-lhe os dedinhos entre as minhas mãos, e enxugo-lhe os cabelos encharcados de água. Mal se reanima: “Vamos, diz-se, experimentemos o arco.

Vejamos se a umidade o não estragou. “Estica-o, então, e vara-me o coração, como faria uma abelha; depois, salta, rindo com malícia: “Meu hóspede, diz, rejubila-te. O meu arco está funcionando perfeitamente bem, mas o teu coração está agora enfermo”. (Anacreonte).

“Um dia, Cupido, não percebendo uma abelha adormecida nas rosas, foi por ela picado. Ferido no dedinho da mão, soluça, corre, voa para o lado de sua mãe: “Estou perdido, morro! Uma serpentezinha alada me picou.

Os lavradores dizem que é uma abelha.” Vênus responde-lhe: “Se o aguilhão de uma simples abelha te faz chorar, meu filho, reflete como devem sofrer aqueles a quem tu atinges com as setas!”. (Anacreonte).

 


Referências Bibliográficas

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 7.ª edição, Vol. I, 1991.

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, Vol. III, 4.ª edição, 1992.

BULFINCH, Thomas. A Idade da Fábula. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1965.

BURN, Lucilla. O Passado Lendário – Mitos Gregos. São Paulo: Moraes, 1992.

CERAM, C.W. Deuses, Túmulos e Sábios. São Paulo: Melhoramentos, 19.ª edição, 1989.

COMMELIN, P. Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Tecnoprint.DUMÉZIL, Georges. Jupiter Mars Quirinus, essai sur la conception indo-européenne de la société et sur les origines de Rome. Paris, Gallimard, 1941.

ELIADE, Mircea. História das Crenças e das Idéias Religiosas. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1978, tomo I, vol. II, p. 15.

MÉNARD, René. Mitologia Greco-romana. São Paulo: Opus, Volumes I, II, III, 1991.__ PRADEC CULTURAL. Programa Ativo de Desenvolvimento Cultural. São Paulo: Nova Central Editora, Vol. II, p. 677/679.

 

© Texto Produzido Por Rosana Madjarof – 1999 – Respeite os Direitos Autorais

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