O Bramanismo – Filosofia Indiana
É devido, em parte, à ação dos fatores diversos e opostos ao bramanismo, em especial ao ascetismo da filosofia ioga, que o pensamento bramânico se desenvolve nos mais antigos Upanixades e nos Aranyakas.
Os textos que tomam o nome de Aranyakas são destinados à instrução espiritual e à meditação dos brâmanes, eremita que vivem nas selvas: fenômeno novo, com relação à mudada concepção bramânica, que, de humanista se tornou ascética.
Nos Upanixades esse esoterismo acentua-se; o termo indica doutrina arcana, revelação sagrada. Para a salvação eterna tem importância fundamental a gnose, e não o rito. Os Upanixades, pois, diversamente dos Brâmanas, manifestam grande simpatia para com o Ioga.
Ao braman – palavra criadora, essência do mundo, princípio supremo, segundo os Brâmanas – une-se uma nova concepção do Absoluto: a do âtman.
A essência do homem, bem como de qualquer outra coisa, é âtman, a alma, o espírito. Mas o homem e cada coisa se fazem uma só coisa com o braman; logo, o braman é âtman, isto é, o Absoluto, e o tudo é espírito, donde a fórmula clássica dos Upanixades: isto tu és, tu és intimamente o braman; o teu âtman é o braman, porque o braman é um âtman.
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O braman-âtman compreende todas as perfeições mundanas, humanas, especialmente as perfeições espirituais; mas, ao mesmo tempo, transcende todas as determinações empíricas e, portanto, também as espirituais.
De sorte que só serão possíveis uma filosofia e uma teologia negativas. Superior a toda oposição, o Absoluto está na sua eternidade imóvel; o mundo emírico é uma decadência da pura espiritualidade do braman-âtman.
Antes, o mundo empírico é uma ilusão, porquanto existe apenas o braman-âtman e as coisas existem só em sua própria unidade. No fundo, estamos em face de uma metafísica monista-acósmica-idealista, donde decorre logicamente uma moral ascética.
Para o vedismo, a moral era ativista-litúrgica com finalidades imanentistas e humanistas; os Upanixades provocam uma febre de renúncia e enaltecem uma moral ascética com respeito aos bens do mundo considerados ilusórios e vãos. Não há mais medo da morte, e sim medo da vida; não mais medo do fim e sim medo de continuar a viver numa outra vida, conforme a doutrina da metempsicose.
Para o vedismo, o karman era o ato ritual sacro e benéfico; nos Upanixades, o karman é a atividade geradora da existência e, logo, maléfica, porquanto a existência é escravidão. A ação, toda ação, é julgada desfavoravelmente, porque contamina a alma de corporeidade.
Voltam para o mundo absoluto as almas que se abstiveram da ação, mas os indivíduos que agiram – bem ou mal- têm que renascer no mundo empírico, em condições diferentes segundo as ações das vidas anteriores.
Por conseguinte, o único modo de se salvar e libertar-se da vida dolorosa do mundo seria a inação. Assim, quase a totalidade do pensamento e da praxe na Índia correrá atrás desse ideal: fugir à transmigração, ao renascimento, à vida e à morte.
Ao problema moral assim entendido – como problema de libertação – foram dadas, até agora, duas soluções: a do Ioga e a dos Upanixades.
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O Ioga é uma praxe cujo ideal consiste em viver sem agir, renunciando à vida segundo a natureza, violentando perpetuamente as condições normais da existência. A experiência comum, a praxe vulgar não passam de um sonho vão e doloroso, do qual é preciso libertar-se; depois da libertação a gente dormirá um sono sem sonhos.
Segundo a concepção dos Upanixades, ao contrário, a salvação e a libertação provêm do conhecimento, que dissipa a ilusão do mundo e nos faz atingir a imutável realidade do Braman, em que cessa o turbilhão da vida e da morte, e se alcança a paz. Tal intelectualismo terá êxito feliz no bramanismo posterior e também no budismo – que é um sistema heterodoxo e ateu.
Referências Bibliográficas:
BURN, Lucilla. O Passado Lendário – Mitos Gregos. São Paulo: Moraes, 1992.
CERAM, C.W. Deuses, Túmulos e Sábios. São Paulo: Melhoramentos, 19.ª edição, 1989.
DUMÉZIL, Georges. Jupiter Mars Quirinus, essai sur la conception indo-européenne de la société et sur les origines de Rome. Paris, Gallimard, 1941.
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, Edições Melhoramentos, São Paulo, 10.ª edição, 1974.
© Texto Produzido Por Rosana Madjarof – 20/02/2015 – Respeite os Direitos Autorais